Há uns tempos, perguntaram-me se a minha Mãe tinha uma frase, se havia algo que ela dissesse e que se soubesse que só ela diria aquilo. Algo tipo "catch phrase". Algo que fosse só dela.
Havia.
"Come que tu gostas". É dela. É ela. Foi logo do que me lembrei. É a minha Mãe chapada. Come que tu gostas.
Há outra Mãe na minha vida que, durante anos e anos, criou a sua própria frase, a sua própria marca nas conversas, o seu próprio carimbo que nos dizia, no imediato, que era ela que ali falava.
"Vamos embora". Assim. Puro e duro. Seco e directo. Estava sempre a querer ir embora. Tinha coisas para fazer, sítios para ir, um sem fim de algos a tratar. Vamos embora, vá. Vamos embora.
Foi hoje embora pela última vez.
Anos e anos a insistir em ir e o destino lá lhe fez a vontade, a derradeira e suprema cedência à sua vontade. Vamos embora? Vamos.
Esta Mãe, que o é ao meu Pai, é também minha Avó. Há uns anos, quando a soubemos em início de doença, o que eu primeiro disse foi que a Mãe do meu Pai estava doente. A Mãe do meu Pai. Antes de ser minha Avó, antes de mim, estava ele, o seu único filho. Ele e ela naquela relação que ninguém pode perturbar. Que ninguém altera, muda ou desfigura.
A minha Avó foi embora e isso doi. Muito.
A Mãe do meu Pai foi embora. E isso é infinitamente mais doloroso.
Vamos embora, 'Vó?
Vamos.