“The older I grow, the more I distrust the familiar doctrine that age brings wisdom.” - H.L. Mencken

26
Ago 15

Sou a pessoa mais friorenta que conheço. Dizem que tenho o termostato avariado e é bem capaz de ser verdade. Enquanto a maior parte das pessoas derrete com as altas temperaturas, eu consigo manter um ar relativamente fresco e não incomodado.
Não gosto lá muito do Verão (o que, à primeira vista, soa a contradição). Prefiro o Inverno, o frio. O frio combate-se. O calor? Nem por isso. Quando está calor, e mesmo que eu não me sinta com calor, acontecem-me coisas estranhas. Os dedos dos pés incham, transformando-se numa espécie de parábola da história dos três porquinhos. No meu caso, os dez porquinhos. Parecem pequenos leitões deitadinhos numa alcofa, desde o mais pequeno até ao mais crescidinho. Ou seja, também tenho o sistema de circulação avariado dado o mesmo só funcionar convenientemente dos joelhos para cima.

À noite, por norma, só consigo adormecer com os sacanas ao ar livre ou, como já aconteceu, devidamente aconchegados por sacos de gelo (os melhores são aqueles feitos de caroços de cereja que dão para aquecer ou congelar. Muito bons. Recomendo). Não gosto de calor mas os Dez Porquinhos chamados Babe, adoram.

No Inverno, ou quando faz frio, raramente o sinto (mais uma contradição). Por exemplo, final de tarde de Verão numa esplanada, a temperatura baixa, o sol põe-se. Eu saco de casaquinho (anda sempre um comigo) e visto-o, aconchegando-me. Lá vem a inevitável pergunta. Tens frio? Não, não tenho. O casaco funciona muito bem, obrigada!

Quando faz frio a sério, uso roupa quentinha e consigo passar um dia inteiro de casaco (consigo fazer quase tudo de casaco). A pergunta que mais me fazem, claro: Tens frio? A resposta que mais dou: Não. E insistem com um: Mas tens tanta roupa vestida! E eu remato com um: É precisamente isso que me impede de ter frio, não?

O conceito de roupa para impedir o frio e não de apenas manter o frio parece ainda não ter sido devidamente desenvolvido. Parece que, quando se tem frio, a roupa serve apenas para manter o frio nesse nível e não erradica-lo. E quando estamos num sítio fechado e não tiramos o casaco? Aí, sim, mantem-se o que já se produziu (só se tira caso haja excesso de produção de quentinho, transformando-se em calor). As pessoas, simpáticas, avisam-me sempre: quando fores para a rua vais ter mais frio ainda. E eu respondo: Só se tirar o casaco, né?
Enfim.

Seja como for, tudo isto para dizer que o Verão está a acabar e que os Dez Porquinhos irão, em breve, hibernar durante uns bons meses. Passarei a andar menos inchada e com noites mais tranquilas. Tudo isto durará até o tempo exigir meios mais drásticos. Nessa altura, passarei a boneco da Michelin.
Eu, cheia de avarias, devia era viver em país tropical. Temperatura amena o ano todo. Não havia porquinho que resistisse.  

publicado por Sónia às 12:20

09
Fev 15

Quando não há nada a perder, há tudo a ganhar?
Porque é que só nos mostramos a sério, naquilo que realmente somos, quando não temos nada a perder? Não devia ser ao contrário? Não devíamos mostrar-nos a sério quando temos algo a ganhar? Porque não vimos a questão ao contrário? Porque é que não lutamos a favor de algo e não contra? Porque é que lutamos contra o vazio iminente e nunca a favor de algo sempre repleto? Porque é que só entramos em acção quando encostados à parede, quando nos ameaçam, quando nos metem medo? Porque é que só damos o nosso melhor nestas alturas, nunca evitando que lá se chegue noutras?
Porque é que insistimos em dar razão à máxima que diz que só se dá valor ao que se perde?   
E o valor que se dá ao que se ganha? Não vale nada por comparação?
Quando há tudo a ganhar, porque é que se pensa primeiro no medo de perder? E porque é que esse medo fala mais alto, congelando-nos no lugar, do que o desejo de tudo ter?
Mas porque é que não haveremos de ter tudo? Porque é que não haveremos de ir atrás, sem medo? O que é que temos a perder a não ser o medo do medo em si?
Se não há nada a perder e isso é confortável, então aí é que se perdeu e perde mesmo tudo.  

publicado por Sónia às 12:23

Dezembro 2017
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
14
15
16

17
19
20
21
22
23

24
25
26
28
29
30

31


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

posts recentes

Avarias

Perder a perder.

mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO