Dantes, porque era gozada, tentava disfarçar o meu sotaque. Hoje em dia, estou-me pouco nas tintas para isso.
És de onde?, perguntam quando reparam em algo não bem certo comigo.
E eu, fiel ao princípio que afirma que o verdadeiro Lisboeta não passa para lá de Sacavém sem passaporte, respondo em voz embargada, pesada, sofrida.
Samora Correia..., deixo eu no ar, com olhos semi-cerrados como se a própria menção das palavras me causasse dor.
Quase sempre, quase, a resposta vem em forma de pergunta: Onde?
E eu, também fiel ao princípio que diz que se assumes um personagem, mantém-o até ao fim, respondo: Pois... Se nem sabe onde fica ou ouviu falar, imagine!
Do outro lado, um abanar de cabeça compreensivo, de lamento, de empatia.
Eu já não me ralo em mudar o sotaque. Esta malta de Lisboa pode chamar-me campónia (como faziam) à vontade. Sei que há todo um mundo que nos separa nos 50 kms de estrada que faço todos os dias.