“The older I grow, the more I distrust the familiar doctrine that age brings wisdom.” - H.L. Mencken

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Dez 17

Dou-vos um exemplo simples disto.
Eu falo inglês (e escrevo, leio e penso em inglês também). Para além de ter aprendido a ler e escrever (no geral) em inglês, mantenho um bom ritmo de manutenção da coisa lendo muitos livros, em inglês, e chamando muitos nomes feios, em inglês, às pessoas que fazem asneiras no trânsito. Inglês é algo tipo tu cá, tu lá para mim.
Anyway...
De vez em quando, colocam-me questões sobre o inglês porque sabem que eu e o inglês é algo tipo tu cá, tu lá. Justíssimo.
Se sei-lá-o-quê se diz assim ou assado, se sei-lá-o-quê-II se escreve assado ou frito, etc. E eu respondo, explicando de forma simples o porquê da minha resposta.
Quase invariavelmente, recebo olhares desconfiados e/ou afirmações tipo "Oh. É nada!", "Mas e se...", "Mas eu não aprendi assim...", "Mas eu achava que...", etc.
Dantes, quando ainda me ralava e não tinha percebido ainda o que está descrito ali na espécie de título deste post, ainda me dava ao trabalho de argumentar, demonstrar, dar mais exemplos - valia quase tudo até que a pessoa ficasse convencida do que estaria a dizer e reconhecesse o erro do seu caminho.
Houve também a fase de puxar pelos galões, depois de todo o resto falhar, e fazer perguntas tipo "Quantos anos viveste na Austrália?", "Qual foi a nota que tiraste no exame Cambridge?", "A quantas pessoas dás aulas?", "E business english, ensinas?", etc. Era, admito, uma espécie de over-kill (vão ao google) que deixava a outra pessoa vencida (mesmo que não convencida) e que me deixava a mim fucking pissed off (conjugação interessante impossível de traduzir para o português).
Foi quando percebi que as pessoas se estavam pouco a cagar (infelizmente, esta não dá para traduzir como deve ser para inglês) para a verdade ou a resposta às suas questões. O que queriam mesmo era que alguém supostamente entendido confirmasse o que elas achavam, pensavam e opinavam.
Daí em diante, a minha vida mudou.
Ao primeiro argumento contrário ao que eu teria dito, passei a responder com um "'Tá bem". Mais nada. Fim de discussão. Next!
(de vez em quando, quando sei que a pessoa não sabe que eu e o inglês é algo tipo tu cá, tu lá, atiro com um "ahh, pois, por acaso é uma das situações que analisamos muito nas minhas aulas..." e deixo a coisa sink in - e não on, já agora).
Há quem desconfie desta minha recusa em seguir para a luta e veja nisso o acto máximo de certeza, de firmeza, desconfiando ainda mais de tanta simpatia pelo adversário. Aceitam, fazem perguntas inteligentes e, de vez em quando, até aprendem algo novo.
Mas há quem se dê por satisfeito com o meu deitar de armas, quase como se me tivessem vencido, a mim, à perita da coisa e, de sorrisinho orgulhoso e com mais meio palmo de altura, ainda acrescentam algo do género "pois, bem me parecia".
'Tá bem, respondo de novo, com sorrisinho tipo crocodilo brincalhão, matando ali mesmo a minha colaboração da cena.
Que bem se está neste mundo de peace (que é diferente de piece ainda que se pronunciem da mesma forma, já agora).

Tirem as vossas próprias ilações deste texto, desta mensagem. Por mim, 'tá bem. 'Tá tudo bem.

publicado por Sónia às 11:03

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